ANÁLISE PARTE MAKALISTER POETAS NO TOPO
Muitos não entendem esse verso. Como é um dos versos que mais admiro e curto, decidi mostrar o que entendo das palavras de Makalister. BK e Menestrel vindo...
Com um dos versos mais poética e filosoficamente carregados de 2016 e 2017, Makalister torna o começo do primeiro ‘Poetas no Topo’ inesquecível. Muito criticado pelo seu uso complicado de vocabulário e construção de versos, o mc traz um flow quase que desconhecido no rap nacional.
Em geral, o verso é um dos de mais difícil compreensão e mostrou uma falta de conhecimento por parte do público que o critica por não fazer sentido. Pelo contrário, o rapper traz uma verdade crua em forma de versos requintados. Uma boa crítica em relação ao mundo. Apenas quem presta atenção e estuda seu verso conhece a verdade. As rimas repletas de referências obscuras e cults trazem ao rap e seu público uma fonte de conhecimento pouco vista antes. Com isso, Makalister força o ouvinte a extender seu conhecimento a partir de seu vocabulário.
“O reflexo vira matéria, atinge a idade�Da invisível grade a porta só abre por fora
São noites de Cabíria, sob o céu do enigma”
São noites de Cabíria, sob o céu do enigma”
O rapper começa seu verso com a ideia de que nossas ações (reflexos perante à realidade) se tornam reais e têm efeito. Eles atingem uma invisível grade e a porta abre apenas por fora. Makalister nos diz que nós estamos aqui, não por escolha, mas por sorte ou azar. Nossas ações ou nós mesmos atingimos uma invisível grade, a morte ou o nascimento. Ambiguidade proposital. A porta só abre por fora: estamos presos. Noites de Cabíria remetem à eterna escravidão da vida sob o céu da dúvida entre nascimento e morte.
“Escondo no planeta algumas soluções de fácil uso
Esbarro nos lábios brutos, arranhados como fracos vinis�Cansados de só ver navios
Nas areias do templo, no sinal vermelho�O parabrisa reflete, como posso me esconder de mim mesmo?”
Esbarro nos lábios brutos, arranhados como fracos vinis�Cansados de só ver navios
Nas areias do templo, no sinal vermelho�O parabrisa reflete, como posso me esconder de mim mesmo?”
Ao se deparar com esse triste cenário, o eu-lírico esconde no planeta algumas escapatórias. Esbarra em lábios brutos
Mas arranhados como fracos vinis. Ou seja, pessoas são brutas por fora mas são delicadas por dentro. Vendo navios naufragados ao tentar chegar na paz eterna, Makalister se vê como a realidade e não pode se esconder de si mesmo. Sinal vermelho: momento de reflexão.
Mas arranhados como fracos vinis. Ou seja, pessoas são brutas por fora mas são delicadas por dentro. Vendo navios naufragados ao tentar chegar na paz eterna, Makalister se vê como a realidade e não pode se esconder de si mesmo. Sinal vermelho: momento de reflexão.
“Sol mostarda, viver atrasa, sexta-feira em casa
Na cabeça "Não Amarás" e "Decálogo"
Paredes falam muito sobre mim e sobre os vacilos que ando cometendo”
Na cabeça "Não Amarás" e "Decálogo"
Paredes falam muito sobre mim e sobre os vacilos que ando cometendo”
Nessa estrofe o eu-lírico se coloca novamente em posição de escravo da sociedade e condição humana já que viver atrasa o descanso em casa. Os filmes de Krzysztof Kieslowski citados debatem sobre liberdade e privacidade no mundo. Paredes vêm seus erros e falam sobre ele. O eu-lírico nunca está só e longe de críticas internas e externas. O sentimento de escravidão aparece novamente.
“A pureza decola no trânsito lento
E o pensamento no Ettore Scola�As coisas perdem suas cores agora”
E o pensamento no Ettore Scola�As coisas perdem suas cores agora”
Aqui Makalister fala sobre a pureza efêmera do ser humano. Sua pureza decola por causa da raiva e a sociedade prega isso. Nós brigamos para ganhar o que queremos e tudo perde sua cor.
“Não fui e não vi, dos detalhes preferi nem saber
Gastei uns minutos num bar e nem pensei em morrer�Porque viver não se pensa�Ao menos não vale o esforço
Vale o que expira�O que sobra do ser�Botar na tela o sangue da carne abulante
Ser a latência, jamais operado pelos
sonhos de alguém”
Gastei uns minutos num bar e nem pensei em morrer�Porque viver não se pensa�Ao menos não vale o esforço
Vale o que expira�O que sobra do ser�Botar na tela o sangue da carne abulante
Ser a latência, jamais operado pelos
sonhos de alguém”
Nesta parte Makalister diz que a vida não se pensa, até porque todos somos escravos da solidão e ambiguidade existencial. O que vale não é o ser humano. O que vale é seu legado, quem morre sem legado é esquecido. Tudo se resume à a latência de existir que gera a angústia discutida no texto. Isso é expresso através do sangue jorrado na arte. E isso é a única coisa que nos faz livre e independentes.
No verso, Makalister discorre a respeito do questionamento do ‘ser’ durante a vida. Nada responde a pergunta. Ele sabe disso. Por isso faz arte e deixa seu legado.
Porra, tava pesquisando sobre esse verso que acho muito interessante e esse texto explica muito e me trouxe confirmações sobre o que eu achava aur era . Parabéns!
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