terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Papo bobo que nem tudo

O que entendo da vida?

Faz tempo que não escrevo. Isso é sim um cliché, mas uma verdade também. Isso também é cliché… A verdade é a seguinte: tudo é cliché. É disso que quero falar. Não que não tenha sido falado antes. Mas o desabafo é necessário. O que é a literatura se não um desabafo bem feito?

Uma verdade que demorei para entender é que a verdade em si é relativa. Eu não posso esperar que as pessoas pensem o mesmo que eu em tudo. Até aqui é uma Epifania clara. Mas o que digo é, isso é relativo. Para mim podia ser algo difícil e mais profundo. Claro, eu sou burro. Outra verdade que encontrei. Eu me acho burro pois posso aprender mais e mais. Não importa a conotação social de uma pessoa burra. Todos somos burros. Steve Jobs era burro e o maconheiro do último ano do ensino médio também. A diferença é do que você entende. Você sempre entende de algo. Isso que é importante. Foque no que você gosta. Porque realmente não fará diferença nenhuma. A dor não tem impacto no final. A dor de ninguém e o amor de ninguém. Tudo vira pó e o sentimento que eu sinto ao escrever algo dolorido também...

Ao saber disso, eu me encontro em um lugar de equilíbrio mental. Eu procuro a resposta pelo conhecimento e não pela resposta em si. O processo é mais importante que o resultado e a jornada mais importante que o destino, sim... nós sabemos. Então, lendo a Veja e Carta Capital, eu me encontro no meio, sereno.

O problema sendo minha tendência à não me importar, eu não quero saber de nada disso. No momento eu deveria estar bem. Fit. Saudável. Agradável. Mas não. Eu me sinto na merda. Sendo a merda o mundo. Eu entendi que é inevitável a falta de saber e a falta de controle. Sim. Isso não é original. Mas não importa o quão original seja, mas sim que não importa ao todo. Nada importa tanto assim. Tudo que passou já passou e pode ou não acontecer de novo. Não importa. Você tem de lidar com isso também. E se não lidar. Não importa. Escolha as coisas inúteis que você gosta.

Imagine um trem. Estamos todos nele. O mundo. O destino é M e partimos de N. Vários trens vão. Nenhuma volta. Trem não faz curva. Não saímos do trem. Ele não para. Não importa o que façamos, até porque sem trem não tem nada. Destruímos o trem! Foda-se! Legal. Todos vão ser expulsos do trem se isso continuar. Ok... Vamos consertar o trem. Deu merda, senhor! O trem não vai ficar pronto a tempo! Vamos tentando... Ou seja, o trem vai levar todos ao destino e nós temos apenas que aproveitar o resto da viagem. Tente dormir. Comer. Ler. Desenhar. Ir ao banheiro. Falar com alguém. Não faça inimigos. Porra. Quer que te joguem para fora do trem? Aproveite e não saia do trem. Mas não faça da viagem uma perda de tempo.

Entendem então que basta se acomodar na merda que tudo se resolve. Você se guia pela vida como um barco no mar ou como uma nave no espaço. O destino é certo então experimente e viva. Nada importa.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Análise do peoma 'A tela contemplada' de Carlos Drummond de Andrade


 A tela contemplada

Pintor da soledade nos vestíbulos 
de mármore e losango, onde as colunas 
se deploram silentes, sem que as pombas 
venham trazer um pouco do seu ruflo; 

traça das finas torres consumidas 
no vazio mais branco e na insolvência 
de arquiteturas não arquitetadas, 
porque a plástica é vã, se não comove, 

ó criador de mitos que sufocam, 
desperdiçando a terra, e já recuam 
para a noite, e no charco se constelam, 

por teus condutos flui um sangue vago, 
e nas tuas pupilas, sob o tédio, 
é a vida um suspiro sem paixão.



Ele que pinta a tela de pessoas nuas é o pintor de quadros. Os vestíbulos são tristes. Pessoas sem as suas coisas são tristes. Os vestíbulos são vistos como não arquitetados, mas na verdade, o eu-lírico fala das coincidências e acasos da vida. Volta para a edificação falando que a plástica é vã, falando também do pintor do início. Isso já dá o tom de que as artes são vãs quando não causam reação. O eu-lírico se mostra, aqui, que está entediado com a vida, que a vê como vazia e triste.

Criador de mitos que sufocam é o pintor. O eu-lírico volta a falar sobre as coincidências da vida, arquiteturas não arquitetadas. Das pessoas estarem em um momento íntimo com desconhecidos. Diz então que elas voltam para a noite: o momento antes de dormir, os sonhos. Nós ficamos pensando nas coisas que acontecem e na vida. E tudo isso, toda a existência vai para o charco, vira lixo. Falando com o pintor novamente, fala que ele é vazio e entediado com a vida. O eu-lírico diz que a vida é um ‘suspiro sem paixão’.  Ou seja, um suspiro sem vontade de viver, apenas entediado com a existência.

O poema fala sobre o tédio com a vida e que nem a arte nos comove. O eu-lírico se mostra triste e decepcionado com a existência mundana. Ele não sente que algo pode nos salvar, nem a arte. Mostra que mesmo as coincidências da vida viram lixo. Mostra que tudo que vemos é tedioso e triste. Nem a poesia é o bastante.


- João Vitor Latini


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Caviar


Com a caneta
descrevo meu universo.
Tive dinheiro e sucesso
mas felicidade
é só no verso.

Tudo que eu sei,
ou sabia,
não sei mais.
Ser ou não ser?
Morrer
É mais fácil
do que me fuder
todo dia.

Com a caneta
mostro quem eu sou.
Menino rico,
triste
decepção.
Deveria ser aborto
ou
morto
com substâncias,
que fazem de meu corpo
um esgoto.

Poesia da
destruição
de uma vida
que
deveria ser
apenas diversão.

Invejo meus colegas
saudáveis
e alegres.
Deus, você
me quer
assim? Um moleque
perdido
na agonia
de não saber
o que é
essa vida?

Sigo a maré.
Perdido sem esperança
ou fé.
Sei que estou aqui
mas queria estar
em outro lugar.
Menino perdido,
que talvez se encontre
no caixão,
e não,
no caviar.