terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ode à cidade



Ó, o cinza
das ruas
e do céu
poluido.

Ó, os prédios
e casas pichadas.

As pessoas tristes
andam sem rumos
em finitas vidas
de infinito trabalho.

Os ratos!
O cheiro de lixo e
a falta de cor!

Tudo na cidade
sem valor
emocional.

A cidade é onde,
se vem para
viver sonhos
de dinheiro e fama!

A cidade é onde
os sonhos são destruídos
e na rua
os carros passam
amaçando
tudo pela frente.

Tudo na cidade
é feio
sem cor.
Pois tudo foi destruído
para tê-la.
Tudo aqui é...
nada.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Pequenos poemas IV

Labirinto

Você é um labirinto.
Eu sigo seu caminho.
Parece que estou indo
à algum lugar,
mas dou voltas
em círculos.
Meu amor
não é correspondido.

Lua e Sol

Nós somos como
Lua e Sol.
Somos feitos um pro outro.
Mas nunca nos encontraremos.


Ela

Tem sempre aquele alguém
que está
espalhado
por tudo que você faz,
sente,
vive,
ama...


Tumor

Seu lugar no meu coração
diminui muito
desde que você se foi.

Mas o problema é que
mesmo quando pequenos,
tumores ainda
são problemas.


Uma memória

Nossas memórias
me deixam feliz 
pois me lembram 
de tempos bons.

Nossas memórias
me deixam triste
pois me lembram
que você
é apenas isso.
Uma memória.


Borracha

Queria apagar
Nossos momentos
Como borracha
No lápis.

Tudo que escrevemos
Apagado
Da memória.

E assim 
Poderia viver
Toda minha 
Glória.


Amor desgastado

Amor desgastado
e que não vai voltar.
Amor de lado
que não te deixa pensar.


Novo amor

Um novo amor
Uma nova catástrofe


Assombrações

a vida,
a morte,
o sonho ,
e o pesadelo
todos 
juntos 
como parceiros 
me assombrando
a noite.

J.V.

sábado, 10 de setembro de 2016

Ela de novo

I

Estar deprimido, estar triste, não ser o que você quer ser e não te ter são coisas muito complicadas e com as quais eu estou lidando por estes dois anos. Tudo vem rápido e eu estou devagar. Triste. Poeta sofredor. Estava tentando levantar da cama faziam dois dias. Nada funcionava. Não tinha fome, vontade de sair ou ver alguém. Estava sozinho com pessoas me amando por perto. Queria poder explicar a elas que elas não são o problema. Queria pedir para elas não desistirem. Não posso. Não saí da cama. Estava frio lá fora. Estava mais frio no meu coração. Como pode? Como algo podia estar tão errado com meu cérebro? Como podia me relacionar tanto com as letras do ‘Citizen’?
Levantei e fui até a cozinha. Comi algo e cuspi. Que merda. Fumei um cigarro no quintal. Era bom. Eu sentir que estava morrendo. Era bom. Voltei para dentro e não senti nada. Sentia que devia ir. Ir embora. Àquela hora. Acendi meu último cigarro. Peguei a faca de cortar carne e cortei minha carne. Doía, mas não sentia. Eu estava cheio de sangue nos pulsos. Deitei no chão e esperei pela luz, se é que havia alguma. Ouvi um barulho. Era a hora?
‘Que porra é essa? ’ Gritava João ao me ver no chão ensanguentado.
‘Oi’ levantei, agora sentindo muita dor.
‘Cara! Que merda! Vamos te levar para um hospital! ’
‘Não! ’
‘Sim! Caralho, você está cheio de cortes! ’
‘Foda-se! ’ Gritei.
‘Foda-se o caralho! ’ João disse me puxando para fora do apartamento.
Ele me levou até o carro à força. Fomos até o hospital. Na emergência nos deram um formulário para preencher.
Me levaram para uma sala de emergência onde fecharam os cortes nos meus pulsos. Um médico entrou na sala.
‘Olá. Tudo bem? ’
‘Não, claro que não’ Respondi.
‘Claro. Pergunta idiota. Mas o que levou o senhor a fazer o que fez? ’ Me perguntou mexendo nos papéis de sua prancheta.
‘A vida. Estava demais. Eu não levantava da cama a dois dias e tudo estava muito cansativo. Parecia que o único modo de sair desse ciclo de tristeza e vazio era indo embora de vez’
‘Claro. Você faz algum tipo de tratamento? ’
‘Não. ’
‘Você tem mais de dezoito anos, certo? ’
‘Sim’
‘Pois então vamos lhe colocar em um centro de tratamento para doenças mentais. Não se preocupe, o plano de saúde cobre tudo’
‘Isso vai me ajudar mesmo? ’
‘Sim’
‘OK, então. Que se foda’
‘Quando que começa? Amanhã? ’
‘Agora’ Disse rindo.
‘Agora? E minhas coisas ’
‘O seu amigo já foi as buscar’
O lugar era um andar de um hospital. Tudo era branco. Parecia que não queriam que nenhum tipo de emoção fora a calma fosse provocada. Eles me levaram para meu quarto. Era um quarto individual. Era pequeno. Não quis conhecer o lugar no tour com o médico. Faria isso sozinho depois. Aos poucos. Fiquei no quarto até a enfermeira trazer minhas coisas. João me conhecia bem. Ele trouxe minhas roupas pretas e meus livros de poemas de Bukowski e Leminski. Pelo menos isso eu teria lá.
Saí do quarto. Era um corredor longo, cheio de pessoas com a cabeça para baixo, andando sem rumo, indo pegar remédios ou indo para tratamentos.
‘Ah. Saiu do quarto! ’ Alguém me disse.
Virei para o lado e um homem negro, alto me olhava com um sorriso.
‘Sim. ’
‘Sou seu terapeuta, Jorge’ me disse estendendo a mão.
‘Ah sim. OK. Tudo bem? ’ O cumprimentei.
‘Sim. Vamos a meu escritório conversar? ’
‘OK’
Seguimos o corredor até o final onde sua sala estava à direita. Era uma sala escura (finalmente algo diferente de branco). As paredes eram de madeira e Jorge ficava atrás de uma grande mesa de madeira. Naquele lugar era 8 ou 80. Ou era tudo branco ou tudo era de madeira... me sentei na cadeira. 
‘Como está se sentindo? ’
‘Uma merda. Tudo é uma merda. Eu estou vazio por dentro faz muito tempo. Não tenho nem fome. É como se tudo fosse uma repetição do dia anterior. E se não é, eu também não tenho interesse em saber. Eu sinto que se estou triste por tanto tempo, e nada me alegra, não tem porque viver. Na verdade, é muito mais que isso. Eu nem me importo em estar feliz ou não. Eu não me importo com nada. Eu passo o dia no meu quarto trancado. Sem nada para fazer ou sem querer fazer nada. Escrevo sobre as sombras que me perseguem. ’
‘Wow. Quanta coisa! ’
‘Bom. Eu sabia que isso iria ser o que você queria saber. Se estou deprimido. Sim. Estou. Pode me dar o remédio’
Ele riu.
‘Calma. Quero apenas conversar. Desde quando se sente assim? ’
‘Dois anos. Desde que ela morreu. ’
‘Quem? ’
‘Gabriela’
‘Era sua namorada? ’
‘Sim’
‘E ela morreu do que? ’
‘Sofrência, solidão, tristeza. ’
‘Ela se matou? ’
‘Sim’
‘E como você se sente? ’
‘Deixado de lado. Incapaz, triste, fracassado, morto’
‘E por isso você ficou deprimido? ’ Me perguntou enquanto escrevia na prancheta.
‘Não. Eu já estava deprimido. Mas era suportável. Eu não me importava com a vida, mas a vivia. Agora não. ’
‘Entendi. Bom. Com tudo isso que ouvi, eu vou te dar um mês aqui.
‘Eu vou sair melhor? ’
‘Você vai sair pronto para começar a melhorar. ’
‘OK. ’
Saí da sala e fui para a sala de jogos. Era grande e branca. Eu me sentei para escrever no meu caderno. Ia escrever um poema. Quando comecei a escrever uma garota me parou.
‘O que está escrevendo? ’
‘Um poema sobre depressão’
‘Você tem depressão? ’
‘Tenho. Por isso estou aqui. E você? ’
‘Também’
‘Minha última namorada também tinha. Ela morreu’
‘Como era seu nome? ’
‘Gabriela’
‘Hm. Que merda. Me chamo Bruna. ’
‘Você gosta de poesia? ’
‘Não muito. Prefiro prosa’
‘Hm. Olha esse’
Mostrei um poema meu. “Labirinto”.
‘É bonito. Mas nada demais. ’
‘Eu sei’
‘É sobre ela? ’
‘Sim’
‘Como que ela morreu? ’ Me perguntou.
‘Se matou’
‘Desculpa. Talvez ela devia ter vindo passar um tempo aqui’
‘Essa porra funciona mesmo? ’
‘Não sei. Estou aqui há um mês. ’
“E está melhor? ’
‘Não consigo me matar, pelo menos. ’
‘Talvez seja disso que preciso. ’
‘Você fuma? ’
‘Sim’
‘Então venha comigo’
Saímos da sala onde estávamos, atravessamos o corredor e entramos em uma saída de emergência. Era como naquele livro. Fomos até o telhado. Era alto.
‘Não podemos estar aqui’
‘Claro que não. Poderíamos nos matar. Se jogar e acabar com tudo’
‘E por que não faz isso? ’
‘Gosto de estar com você’
Fiquei vermelho. Era algo lindo de se falar. Mas ela nem me conhecia. Era estranho. Sentia uma conexão que só senti com Gabriela.
‘Você nem me conhece’
‘Parece que conheço’
Sentia que conhecia ela também. Para falar a verdade era como se ela tivesse reencarnado em Bruna. Era bom estar com ela também.
Ela acendeu um cigarro.
‘Como que você veio parar aqui? ’
‘Eu tentei me matar. ’
‘Por que? ’
‘Tudo estava indo bem. Eu ia bem na faculdade e trabalhava em uma agência de publicidade. Eu ganhava bem. Mas um dia tudo se transformou. Eu comecei a odiar tudo. Tudo parecia cinza, sabe? Eu não conseguia levantar da cama. Eu não comia, não saía de casa, não fazia nada. Eu levantei um dia. E foi nesse mesmo dia que minha mãe me trouxe para cá. ’
‘Nossa. Eu fui parecido’
‘Como? ’
‘Igual. Só que minha namorada morreu e meu amigo me trouxe para cá. ’
‘Um bom amigo’
‘É’
Uma porta foi aberta e Jorge estava lá.
‘Bruna, já falei para você. Não pode vir aqui. É por segurança. ’
Descemos para a sala onde estávamos. O dia se resumiu a conversas sobre escritores e remédios.

II

Nós saímos correndo pela porta do hospital. Ninguém nos viu. Era noite. Podíamos fazer o que queríamos. Acendemos um cigarro e fomos para um bar. Era o bar do qual tinha sido expulso com a Gabriela. Era perto do hospital.
Entramos no bar e ninguém me reconheceu. Bom. Bebemos cinco cervejas cada. Fumamos muito e rimos muito. Estava tudo indo muito bem. Resolvemos sair do bar. Pagamos a conta. Fora do bar resolvemos ir até o centro. No hospital, todos estavam dormindo. É o que esperávamos, pelo menos.
No centro, resolvemos espalhar poesia pelas ruas. Pegamos uma caneta e escrevemos poemas meus nas paredes de becos e ruas.
‘Você escreve bem’ Ela me disse ao sentar em um degrau e acender um cigarro.
Ela tinha cabelos loiros curtos. Tinha uma franja e usava piercing no septo.  Estava usando uma blusa tipo ‘‘cropped’’ de lã amarela. Sua saia preta era curta e combinava com seus Dr. Martins também pretos. A luz do poste a iluminava e as sombras em seu rosto realçavam suas feições. Ela estava linda. Me sentei ao seu lado. Com meu dedo, puxei sua cabeça lentamente para mim e a beijei. Quando o beijo acabou ela sorriu. Tudo ia bem.
‘Devemos voltar’ me disse.
‘É. Está tarde’
Ao chegarmos no hospital, Jorge estava nos esperando na frente do quarto de Bruna.
‘Vocês não podem fazer isso. Estávamos muito preocupados. A polícia os procurou por uma hora. ’
‘Desculpa’
‘Não é questão de desculpa’
‘Vamos ter que manter pessoas os vigiando’
‘Não precisa disso, Jorge. ’
‘Não estou perguntando. ’
A partir desse dia, Thomas nos vigiava o dia todo. Era fácil porque nós não nos separávamos.
‘Vi que você e a Bruna estão muito próximos. ’ Me disse Jorge em uma de nossas sessões.
‘Sim. Mas não estou pronto para deixar alguém ser importante para mim ainda. ’
‘Vai ser bom para você. Sabe, é necessário enfrentar seus medos. E ter alguém para amar vai te ajudar. ’
‘Vou pensar no assunto’

III

O meu mês no hospital estava quase acabando. Eu não estava melhor desde de que entrei. Quando disse isso à eles, maior erro que cometi lá, eles decidiram me dar mais um mês. Ainda vigiados por Thomas não podíamos fazer nada além de ficarmos trancados engolindo remédios.
‘O que nós somos? ’ Me perguntou Bruna um dia quando estava escrevendo em meu quarto.
‘Não sei. Nós temos que ser algo? ’
‘Olha, eu sei que você ainda está mal com o negócio da Gabriela. Mas você não pode deixar isso te impedir de viver e ser amado por alguém que está pronta para dar tudo por você. ’
‘Eu sei. Mas não estou pronto. ’
‘Você nunca vai estar. ’
‘Vou sim’
‘Aí eu fico aqui esperando? ’
‘O que você quiser. ’
‘Vai se foder’
Voltei a escrever e ela saiu do quarto e bateu a porta.
Nos dias seguintes nós não nos falamos. Ela não olhava na minha cara. Era ruim. Eu a amava. Eu sentia isso, mas não tinha a confiança de ir em frente com isso. Eu a via todo dia. Escrevendo, desenhando, na fila de remédios.... Doía não falar com ela. Doía amar alguém que não queria falar com você. Dói amar...
Eu fui até seu quarto. Não aguentava mais ficar sem falar com ela. Entrei no quarto e ela estava escrevendo um poema. Ela fechou o caderno quando eu cheguei mais perto. Não consegui ler o que estava escrito.
‘Olha. Eu te amo. E isso é a verdade. ’ Eu disse para ela tirando a caneta de sua mão.
‘Eu sei. Mas por que que você tem medo de deixar eu te amar? ’
‘Eu não sei. Mas sei que estou disposto a arriscar. ’
‘Eu te amo’
Eu me abaixei e a beijei. Me senti aliviado por dentro. Todo esse tempo de angústia tivesse passado.

IV

Meu segundo mês estava acabando e eu me sentia melhor, mas Bruna nem tanto. Eu e Bruna estávamos muito bem. Nós conversávamos por horas todos os dias. Sobre tudo.
‘Posso ver aquele poema que você estava escrevendo aquele dia? ’
‘Não. Aquilo é pessoal. ’
‘Eu sei. Todo poema é pessoal. ’
‘Mas esse é só para mim. Ou para você algum dia. Por favor não veja ele. ’
‘OK. ’
Não vi o poema até um domingo, um dia antes de sair do hospital.
Eu acordei e fui procurar a Bruna. Era cedo. Talvez ainda estivesse dormindo. Todos estavam na frente de seu quarto. A polícia estava lá. Jorge, ao me ver, veio em minha direção.
‘Aconteceu algo. Venha até meu escritório’ me disse.
Seguimos para seu escritório, onde nos sentamos.
‘A Bruna... Ela estava muito mal ultimamente. Ela estava tomando remédios muito fortes, mas nada funcionava. Ela só ficava bem quando estava com você.... Ela tirou a própria vida esta noite. ’
‘COMO QUE VOCÊS DEIXAM ISSO ACONTECER? PORRA! ’
‘Ela tinha uma lâmina escondida em seu caderno. No meio das folhas. Ela cortou os pulsos...’
Eu comecei a chorar. De novo. Tudo de novo. Eu falei que não ia deixar mais ninguém se aproximar. Eu a amava e ela se foi. De novo. Não parava de chorar.
‘Ela deixou algo para você. Eu não li, não se preocupe. ’
Ele me deu um pedaço de papel dobrado. Era o poema. Ao ler eu chorava. Não conseguia processar tudo que havia acontecido.
Não era naquele mês que sairia do hospital...

Carta de despedida
Desculpa
é tudo que devo falar.
Não consegui segurar.
Tive que partir
E sair
Daqui.

Esse poema
Não é como os seus
Mas do meu jeito
Dou meu adeus.

Agora eu te desconheço.
Prazer em ter conhecido.
Espero
Te ver novamente,
Em algum lugar
Mais simples e claro,
E te amar,
Loucamente.

FIM

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Neck Deep into sadness

Neck Deep into sadness

Smooth seas
don't make
good sailors.

But the storms
have not been
friendly and my
ship has broke,
I'm fucking
sinking,
and you won't
reach for my hand.

My gold steps
have turned
black.
The sign
I said I needed
isn't there
anymore.
I'm lost,
in a labirinth
trying to find you,
who dissapeared
when I said I loved you.
J.V